COGNIÇÃO E AQUISIÇÃO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NA INFÂNCIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Eva Rodrigues, Lídia Thalita Barboza, Fabiana da Silva, Gabriela Clips Cursino

Resumo


O presente trabalho tem como objetivo relatar um pouco da experiência obtida por meio do projeto de extensão Mala da Leitura: porque ler é também viajar…, o qual é realizado no Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSUL), no campus Santana do Livramento. Tendo em vista as peculiaridades da região onde é realizado dito projeto (fronteira entre Brasil e Uruguai), pode-se dizer que o mesmo foi desenvolvido com o intuito de criar espaços nos quais duas turmas de crianças (uma brasileira e outra uruguaia, abrangendo em média trinta alunos), entre cinco e sete anos, possam ter maior contato tanto com a língua portuguesa quanto com a língua espanhola. Para tanto, são propostas atividades nas quais as crianças são expostas aos dois idiomas por meio da contação de estórias de livros infantis. Quanto ao público-alvo, escolheu-se trabalhar com crianças nessa faixa etária em razão de que, segundo Ferreira e Santos (2010, p. 130), “essa característica é mais fácil de definir e de medir comparada a outras, tais como aptidão, motivação etc.” Alguns neurocientistas como Wilder Penfield e Lamar Roberts (1959 apud HYLTENSTAM e ABRAHAMSSON, 2003, p. 539) sustentam que, no que tange à aprendizagem de uma segunda língua, as crianças são aprendizes mais eficientes que os adultos, visto que o cérebro das mesmas possui uma capacidade especializada para a aprendizagem de língua. Essa capacidade, por sua vez, é evidenciada até os nove anos. Essa idade limite está relacionada à plasticidade cerebral, o que permite a aprendizagem direta, a partir do input recebido. No que diz respeito ao trabalho envolvendo dois idiomas, Pereira e Peres (2011), com base nos estudos desenvolvidos pelos neurocientistas Wilder Penfield (1959) e Lamar Roberts (1967), defendem que a infância é o momento ideal para que a criança comece a estudar formalmente uma língua estrangeira. No que tange aos benefícios, pode-se dizer que o estudo de idiomas estimula as funções cognitivas, o que, consequentemente, pode facilitar o aprendizado de outras disciplinas. Conforme Heloisa Tambosi (2015), diretora pedagógica da Language in Life, uma vez motivada, a criança aprende uma segunda língua de forma mais natural e livre de pressões (se comparada a um adulto). De acordo com Motter (2007, p. 81), “quanto mais tempo a pessoa demorar em ser exposta à LE (L2), maior implicação terá no processo de aprendizagem da língua”. Seguindo a perspectiva da autora, pode-se dizer que os adultos costumam encontrar maior dificuldade para pronunciar certos sons justamente pelo fato de alguns fonemas não existirem em sua língua materna. Enfim, o referido projeto justifica-se mediante o fato de que aprender uma segunda língua traz muitos benefícios para a criança, pois além de melhorar a fala e a articulação, aumenta a sua percepção auditiva, estimula o seu cérebro e ajuda na estruturação do pensamento, facilitando a comunicação e o aprendizado de outros idiomas. Quanto aos resultados parciais, pode-se dizer que, tanto as alunas bolsistas envolvidas no projeto como as crianças (público-alvo), todas estão sendo beneficiadas alguma maneira, visto que há uma troca de conhecimento e de experiência entre as duas partes. As bolsistas, de um modo geral, estão aprendendo a conviver com as diferenças e a respeitar o tempo de aprendizagem de cada aprendiz, o que pode auxiliar na realização de suas atividades e, por consequência, possibilitar às crianças uma aprendizagem mais prazerosa. 

Referências bibliográficas:

HYLTENSTAM, Kenneth; ABRAHAMSSON, Niclas. Maturational constraints in SLA. In: DOUGHTY, Catherine J.; LONG, Michael H (org.). The handbook of second language acquisition. Massachusets: Blackwell, 2003. pp. 539-588.

MOTTER, R. M. B. Reflexões sobre o ensino de línguas estrangeiras na infância. UNIOESTE/Campus Cascavel: Educere et Educare, 2007, p. 79-87. 

PENFIELD, W. e ROBERTS, L. Speech and brain mechanisms. Princeton: Princeton University Press, 1959.

PEREIRA, A. G. S; PERES, M. R. A criança e a língua estrangeira: contribuições psicopedagógicas para o processo de ensino e aprendizagem. Construção psicopedagógica: São Paulo, 2011, p. 38-63.


Palavras-chave


Cognição; Língua estrangeira; Infância.

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