Projeto Cultural Sarau Noturno

CLARISSE ISMÉRIO

Resumo


O Cemitério da Santa Casa de Bagé (1858) possui um conjunto de túmulos de invejável valor histórico. Em seu acervo estão figuras notórias da sociedade, envolvendo mausoléus de famílias tradicionais e de heróis da Revolução Farroupilha e da Guerra do Paraguai. É o guardião de uma parte da história da “rainha da fronteira” que pode ser contada por intermédio de seus vultos históricos, das representações simbólicas e pela releitura promovida pelo imaginário social.      Assim em 2008, no Cemitério da Santa Casa de Caridade de Bagé (Rio Grande do Sul/Brasil), desenvolvemos um projeto cultural denominado Sarau Noturno, que nasceu do Projeto História sob o olhar da Arte Cemiterial (ISMÉRIO, 2007), desenvolvido na Universidade da Região da Campanha (URCAMP), no qual realizamos uma pesquisa sistemática nos túmulos, jazigos e mausoléus. O projeto tem como objetivo geral refletir a história de Bagé sob a perspectiva da arte cemiterial. E os específicos: promover a educação patrimonial; destacar a importância da arte cemiterial; conscientizar para a preservação dos mausoléus e túmulos do cemitério.Trata-se de um projeto que amplia a metodologia da Educação Patrimonial, pois sensibiliza e convida a população a ver o acervo escultórico com “outros olhos” e perceber que o cemitério é um museu a céu aberto. Dessa forma entendemos que a Educação Patrimonial é “(...) um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo” (Horta, Grumberg e Monteiro, 1999, p. 6). Foi construído um roteiro que inicia no portão central e se desenvolve pelos principais túmulos e mausoléus. E as histórias locais são contadas por poetas românticos e personagens shakespearianos, visando salientar a grandeza dos fatos locais. Para tanto, foi necessário um conhecimento prévio na área da literatura universal, uma vez que foi preciso selecionar trechos que pudessem se ajustar ao contexto bajeense. A iniciativa de integrar textos da literatura universal com a história local está dentro da perspectiva do pós-modernismo, que busca no passado elementos que ajudem a compor a obra contemporânea. A partir da concepção do ‘ir e vir’, dos símbolos e representações, cria-se uma reconfiguração de atributos e estilos, indo do clássico ao moderno, através da sobreposição de valores culturais reordenados (Lyotard,1993). O trabalho pedagógico desenvolvido a partir da Educação Patrimonial buscou reordenar os fragmentos de memória do passado, reconstruindo as identidades e a cultura local contribuindo para o incremento da cidadania. Estão envolvidos com o projeto jovens e adolescentes, dividindo as atividades de músicos, atores e pesquisadores totalizando o número de 20 integrantes. Em suas apresentações o Sarau Noturno brindou a população de Bagé com música, poesia e história.  Também foi criada a modalidade de palco, para levar o cemitério a outros públicos, que realizou apresentações no Festival de Teatro de D. Pedrito, no Teatro de Santa Thereza e no Atelier coletivo. Marcou o cenário da cultura estadual e nacional quando foi matéria de capa da Revista Aplauso, da RBS e do Programa Mais Você (Globo). Além de representar Bagé no site Educa Rede, da Fundação Vivo. Durante os anos de atuação, de 2008 a 2015, o Sarau Noturno brindou o público com apresentações que destacavam a importância histórica e artística do local. O resultado da proposta criada em Bagé foi tão positiva que influenciou a criação do Sarau Arte Cemiterial, por Julio Polli, na cidade de Jaú, São Paulo. Acredita-se que projetos como este contribuem para o desenvolvimento da cidade, pois promove a participação da comunidade na busca pela preservação do patrimônio cultural. 


Palavras-chave


Sarau, Noturno, Arte, Cemiterial

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