Força Expedicionária Brasileira e o transtorno de estresse pós-traumático

Jean Borges Feijó

Resumo


A Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviada à Itália durante a Segunda Guerra Mundial (1944-1945), enfrentou combates intensos que deixaram marcas profundas em seus membros, incluindo o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). E, essa pesquisa tem como objetivo geral analisar a incidência de TEPT na FEB, destacando os impactos psicológicos da experiência bélica em veteranos, com ênfase nas enfermeiras, e as barreiras ao tratamento no pós-guerra.Adotou-se uma abordagem histórico-social qualitativa, inspirada no livro De Altamira a Zilda: a guerra permanente das enfermeiras da força expedicionária brasileira, de Daniel Mata Roque (baseado em tese de doutorado). Utilizou-se método micro-histórico para examinar fontes primárias (diários, cartas, relatórios médicos e depoimentos orais das enfermeiras) e secundárias (artigos acadêmicos e arquivos da ANVFEB). A análise temática focou em narrativas de trauma, com triangulação de dados para validar os efeitos bélicos. Não houve pesquisa de campo nova, priorizando análise documental para reconstruir experiências individuais no contexto coletivo da FEB. Essa metodologia permite uma visão profunda, evitando generalizações, e é adequada para temas sensíveis como o TEPT histórico.A análise revela alta incidência de TEPT na FEB: relatos indicam que até 20-30% dos combatentes exibiam sintomas, similar a prevalências em outras forças aliadas (2-11% em estudos modernos). No livro, o foco nas enfermeiras destaca sequelas "invisíveis": Altamira sofreu colapsos nervosos pós-repatriação, com insônia e alucinações de feridos, levando à reforma em 1946; Zilda enfrentou depressão severa, isolando-se socialmente e recorrendo a tratamentos rudimentares como repouso forçado. Ambas lidaram com o trauma via negação inicial e apoio mútuo em redes femininas, mas sem terapia especializada, o que prolongou o sofrimento. O estigma de gênero agravou o caso, com diagnósticos eufemísticos como "neurasthenia". Comparativamente, veteranos masculinos da FEB relataram abandono similar, com suicídios e alcoolismo elevados nos anos 1950-60.A FEB ilustra como guerras exportadas geram legados traumáticos duradouros, com TEPT afetando não só combatentes, mas todo o contingente, incluindo enfermeiras heróicas mas silenciadas. A incidência foi subestimada pela ausência de suporte psicológico pós-1945, perpetuando uma "guerra permanente" individual. Recomenda-se resgate histórico para políticas de saúde mental em veteranos atuais, honrando casos como Altamira e Zilda como lições de resiliência e vulnerabilidade. Estudos futuros devem quantificar melhor via arquivos digitais, promovendo reconhecimento oficial do TEPT na narrativa da FEB.
Palavras-chaves: Força Expedicionária; Traumas; Guerras.


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Referências


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