Mercantilização do Ensino Superior

Arthur Souza Da Costa, Guilherme Thaddeu Pedroso, Pedro Dornelles Maciel

Resumo


A mercantilização do ensino superior no Brasil é um fenômeno recente que se intensificou nas últimas décadas, marcado pela expansão acelerada das instituições de ensino, pela flexibilização dos critérios de ingresso e pela popularização de cursos à distância, sobretudo após a pandemia de COVID-19, que impulsionou um aumento de 189,1% na oferta de graduações EAD, segundo dados do Censo da Educação Superior. Apesar de ampliar o acesso, esse processo levanta preocupações sobre a qualidade das formações oferecidas, já que muitas instituições priorizam o lucro em detrimento da excelência acadêmica, resultando em profissionais despreparados para as demandas do mercado de trabalho. Para investigar as consequências desse fenômeno, este estudo utilizou como metodologia pesquisas bibliográficas em artigos e vídeos sobre o tema, bem como uma entrevista com o presidente do Hospital Santa Casa de Caridade de Alegrete, que compartilhou percepções práticas sobre a formação de profissionais da saúde. Entre os principais resultados, verificou-se que, na visão do entrevistado, a modalidade de ensino (presencial ou a distância) exerce influência no momento da contratação, sendo priorizados candidatos que apresentam experiência prática ou formação técnica complementar, especialmente na área da saúde. Ressaltou-se que profissionais formados exclusivamente em cursos EAD podem ter bom embasamento teórico, mas muitas vezes carecem de vivência prática, o que compromete sua atuação. Foi destacado ainda que, apesar dessa rigidez, a ausência de cursos presenciais em determinadas regiões, como na área de enfermagem em Alegrete, cria um impasse, tornando o EAD a única alternativa viável para muitos estudantes. A entrevista também ressaltou a necessidade de valorizar cursos técnicos e de reconhecer que a qualidade do profissional depende não apenas da modalidade de ensino, mas também do empenho individual e das oportunidades oferecidas. Além disso, foi enfatizado que o Brasil, ao mercantilizar em excesso o ensino, arrisca comprometer a formação de qualidade, em contraste com modelos internacionais, como o dos Estados Unidos, onde o sistema de bolsas garante acesso a instituições mais especializadas e de maior prestígio. Como considerações finais, conclui-se que a mercantilização do ensino superior representa um desafio complexo: ao mesmo tempo em que democratiza o acesso, pode fragilizar a formação acadêmica e prejudicar a credibilidade dos diplomas. Para mitigar esses efeitos, é fundamental que o Ministério da Educação adote medidas regulatórias mais rigorosas, que incluam a avaliação contínua de cursos, a exigência de currículos voltados às demandas reais do mercado e a valorização de práticas de pesquisa e extensão. Somente com a regulação adequada e a limitação das práticas mercantilistas será possível assegurar que a expansão do ensino superior no Brasil ocorra de forma responsável, garantindo formações sólidas e profissionais preparados para contribuir de maneira efetiva com o desenvolvimento social e econômico do país.

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Referências


Cunha, L. F. (2019). Mercantilização da educação: implicações e desafios para o ensino superior no Brasil. Editora Vozes.

Santos, D. (2020). Educação superior e mercantilização: reflexões sobre a qualidade e o acesso. Revista Brasileira de Educação, 25(75), 123-145.

Mazzotta, A. (2018). A mercantilização da educação superior no Brasil: análise crítica das políticas educacionais. Editora Autêntica.

Bittencourt, A. (2017). O ensino superior em tempos de mercantilização: a educação como produto. Caderno de Pesquisa, 47(1), 45-62.


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