TRABALHADORAS RURAIS DA REGIÃO NOROESTE E A DIVISÃO DE GÊNERO NAS ATIVIDADES DA PROPRIEDADE
Resumo
A diferenciação entre os gêneros no âmbito do trabalho nos acompanha desde os primórdios da civilização, onde as atividades já eram segmentadas de acordo com o sexo, ficando aos homens a responsabilidade por atividades como caça e proteção, enquanto às mulheres cabia a coleta de frutos e cuidado com as crianças. Nesse modelo de organização familiar, que se consolidou como hegemônico, o homem é visto como provedor e a mulher como propriedade do homem, submissa a ele e responsável por atividades de círculo doméstico, incluindo cuidado e educação dos filhos. Ainda hoje, muitas mulheres vivenciam essa estrutura familiar – principalmente no meio rural – onde a submissão não se reflete apenas na posição econômica, mas também na esfera psicológica e social. Considerando tal situação, o objetivo desta pesquisa foi avaliar a divisão do trabalho no meio rural, observando com maior ênfase o cenário da agricultura familiar na região Noroeste do Rio Grande do Sul. Para tanto, a partir do projeto “Da cozinha de casa para a agroindústria familiar: relações de gênero e geração de renda na produção de queijos artesanais no Rio Grande do Sul”, aprovado mediante em edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), realizaram-se visitas a propriedades de Ijuí e municípios vizinhos. Por meio de roteiro semi-estruturado, foram entrevistadas 26 agricultoras. As entrevistas foram registradas por gravações de áudio e posteriormente transcritas. A agricultura familiar caracteriza-se pela mão de obra da família, rendimentos provenientes das atividades desenvolvidas na propriedade e limite de quatro módulos fiscais – que em Ijuí compreende 20 hectares. Nessa realidade, as mulheres realizam o manejo dos animais, cultivo e produção de subsistência que contribuem significativamente para o funcionamento da unidade de produção, e ainda respondem pelas demandas domésticas, incluindo cuidado com a casa, marido e filhos. Porém, apenas os homens são vistos como responsáveis pela produção e principalmente pela comercialização de produtos, enquanto as mulheres, mesmo realizando atividades de tamanha importância, têm seu papel vinculado apenas à esfera familiar e auxiliar do trabalho masculino. Os dados analisados evidenciam que tal situação se dá pela estruturação familiar, reiterado pelo fato de que inúmeras mulheres rurais não têm acesso aos direitos trabalhistas e renda formalizada, sendo financeiramente dependentes de seus cônjuges. Formar uma parceria entre os órgãos públicos de apoio ao meio rural e disponibilizar cursos de qualificação, treinamentos e palestras que possibilitem o aprendizado técnico, gestor e, sobretudo o reconhecimento do potencial pessoal é uma alternativa para o aperfeiçoamento e independência financeira das agricultoras. Com o incentivo desses órgãos, o trabalho feminino nesta área poderá ser desenvolvido com planejamento e acompanhamento técnico e ter maior valor agregado visando o desenvolvimento pessoal e familiar. Indiscutível é a importância das mulheres em qualquer área do trabalho rural, seja ele de produção para subsistência ou comercialização. Conclui-se então, que uma nova perspectiva sobre a importância da mulher no meio rural pode garantir a permanência de muitas delas nessa atividade, fortalecendo as futuras gerações.
Palavras-chaves: gênero; trabalho feminino, agricultura familiar.
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