Comportamento de cuidado parental da marreca-pé-vermelho, Amazonetta brasiliensis (Anseriformes, Anatidae)
Resumo
O comportamento é a ligação entre organismos e o ambiente, tendo um papel fundamental nas adaptações das funções biológicas. Assim, etogramas são ferramentas básicas para uma melhor compreensão da biologia, ecologia e comportamento de um animal. Cerca de 75% das espécies de aves do mundo demonstram cuidado biparental. Casos em que apenas a fêmea cuida da prole aparecem em 8% das espécies e o cuidado apenas do macho, em 1%. A marreca-pé-vermelho (Amazonetta brasiliensis) é uma espécie residente e comum no estado do Rio Grande do Sul. Vive em pequenos bandos, em corpos d’água cercados por vegetação densa e nidifica sobre touceiras entre a vegetação. O objetivo deste trabalho é relatar o comportamento de cuidado parental de um casal de A. brasiliensis, traçando seu etograma, de forma a complementar as informações disponíveis sobre a biologia da espécie. Este estudo foi conduzido em um lago no campus da Universidade Federal do Pampa, São Gabriel, Rio Grande do Sul. O lago é utilizado por outras espécies silvestres, como a garça-branca-pequena (Egretta thula), o frango-d’água (Gallinula melanops), a jaçanã, (Jacana jacana) e a garça-branca-grande (Ardea alba) e um indivíduo de ganso doméstico (Anser sp.). Um grupo de 10 indivíduos, composto por oito filhotes e o casal de A. brasiliensis teve seu comportamento estudado durante o mês de junho de 2015, através de observações preliminares pela amostragem de todas ocorrências. Posteriormente, foi usada amostragem de animal focal, com registro das condutas a cada meia hora, utilizando binóculos e câmera fotográfica. As observações foram realizadas pela manhã e à tarde, totalizando 13,5 horas. Foram identificadas 18 condutas, agrupadas nas categorias manutenção, locomoção, alimentação, social e vigilância. As quatro primeiras englobam comportamentos apresentados tanto pelos filhotes como pelos adultos, enquanto a última refere-se a comportamentos demonstrados somente pelos pais. Não foram observados comportamentos específicos na presença de indivíduos de outras espécies, que foram ignorados, tanto pelos pais como pelos filhotes, possivelmente por não serem predadores naturais e não apresentarem perigo ao grupo. Na presença de outros indivíduos de A. brasiliensis próximo aos seus filhotes, o macho demonstrava comportamento defensivo na forma de ataques diretos, através de voos baixos paralelos à linha d’água e a mãe permanecia em posição de observação próxima aos filhotes, com o pescoço esticado verticalmente e rotacionando ligeiramente a cabeça para os lados. Esse comportamento vigilante pode estar relacionado à competição por recursos para os filhotes. Este trabalho concluiu que A. brasiliensis demonstra cuidado biparental, porém com comportamentos diferenciados do macho e da fêmea em relação à defesa do grupo.
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