A representação da vítima na imprensa: Uma análise da cobertura do caso de estupro coletivo no Rio de Janeiro
Resumo
A cada onze minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. Os dados do 9º Anuário Brasileiro da Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública representam apenas os números oficiais, acredita-se que a realidade seja bem mais assustadora, uma vez que a muitas vítimas não denunciam a violência. Embora alarmante, esta realidade é denunciada com muita constância nos noticiários, ela é mantida distante, tratada como extraordinário, embora a sua frequência a caracterize como cotidiana. No entanto, o ocorrido no Rio de Janeiro, no dia 25 de maio de 2016, ficará marcado na memória de todos. Uma menina de 16 anos foi estuprada por 30 homens no Morro da Barão, na praça Seca, Jacarepaguá. O caso ganhou com auxílio do site de rede social Twitter, após os agressores divulgarem as imagens na internet. O vídeo exibe uma jovem nua e desacordada, após a sessão de estupro. Com uma ascensão rápida através das redes sociais, o caso acabou transpondo a internet e ganhando destaque nos meios de comunicação de todo o país. Embora apresente, por si só, elementos bastante polêmicos, como a brutalidade e superexposição, um outro ponto assume posição central na cobertura do caso, a culpa do estupro. Embora tenha sido tratado como estupro pelos principais veículos de comunicação, inicia-se – na esfera pública – um debate em torno da reputação da vítima. Estas discussões pautam a divulgação de informações sobre a sua vida privada, como o fato de morar na favela, frequentar bailes de funk, ter uma filha de três anos, ser usuária de drogas e manter relações com traficantes. A partir da difusão destas informações, cria-se um senso comum de que a jovem “merecia ser estuprada”. A partir da veiculação do caso de estupro e das informações relacionadas ao caso que se seguiram, o presente artigo se propõe a analisar duas reportagens com posições antagônicas sobre o caso, uma publicada no jornal Extra e outra no site Minuto Produtivo. A metodologia de análise foi estruturada a partir do método crítico analítico de cunho qualitativo e documental, sendo construída a partir de princípios da análise de conteúdo de Laurence Bardin (1977). Foram observadas categorias de análise como Adjetivações, Fontes, Escolha das Imagens e Estrutura Textual. Assim, buscou-se compreender como a cobertura jornalística do caso apresentou a vítima e como estas representações acabaram culminando em discursos que culpabilizam a vítima. O jornal Extra, o primeiro jornal a denunciar a violência sexual sofrida pela jovem, tratou o caso desde o início como estupro. A abordagem do jornal gerou polêmica e milhares de leitores criticaram o veículo nas redes sociais por não acreditarem que a jovem tenha sido vítima de violência, mas responsável por esta. Em oposição, o portal de notícias Minuto Produtivo conquistou um considerável apoio defendendo a ideia de que o feminismo foi o principal responsável pelo caso.
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