CASO RAFAEL BRAGA: SISTEMA PRISIONAL E CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE MÍDIATICA
Resumo
Em junho de 2013 uma série de manifestações tomou contas das ruas do país. Iniciadas com a bandeira do Passe Livre, a onda de marchas urbanas ficou conhecida como “Jornadas de Junho” e abarcou diversos temas latentes na sociedade como Copa do Mundo, reformas tributárias e política. Conforme as manifestações avançavam, a repressão policial foi intensificada, porém, poucas abordagens resultaram em medidas mais definitivas. No entanto, esta não foi à realidade enfrentada por Rafael da Silva Braga, o único preso nas manifestações. O jovem, negro e periférico, foi condenado com base nas alegações de dois policiais militares e um laudo pericial de uma garrafa de pinho sol e outra de água sanitária que portava no momento da abordagem. Passados alguns meses, as noticias sobre o caso cessaram, retornando apenas em janeiro de 2016, após Rafael ter sido preso por tráfico de drogas e condenado a 11 anos e três meses de reclusão. Após sua condenação, Rafael Braga passou a ser considerado um símbolo da luta de organizações sociais que defendem um sistema prisional mais justo e menos discriminatório. A partir deste caso, o objetivo desta pesquisa é entender como Rafael Braga passa de mais um jovem negro preso com base em testemunhas policiais à ícone da luta contra a seletividade do sistema prisional brasileiro, remontando um dos casos mais emblemáticos já repercutidos entre as pautas dos coletivos, militantes e ativistas na internet. A partir dos estudos em semiótica e dos critérios do jornalismo, foi elaborada uma pesquisa para comparar e compactar noticias sobre Rafael Braga desde 2013, até 2017, apresentadas pelos portais: Ponte Jornalismo, Carta Capital, Folha de São Paulo, G1, além de blogs, páginas e ciberativistas. Para análise foram escolhidos todos os portais online que noticiaram o caso, sendo oito portais de grande circulação, que somados veicularam um total de 30 noticias. O que ficou evidente após a analise de títulos, subtítulos e lead é que enquanto a mídia convencional, G1 e Folha de São Paulo, narrou o caso através de matérias generalistas e em blogs de colunistas, como podemos observar nessa chamada do G1- “Ex-morador de rua preso em protesto de 2013 é condenado a 11 anos de prisão por tráfico”, atribuindo ao jovem o estereótipo de morador de rua e associando ao corpus além de protestante, também traficante. Podemos comparar com matérias produzidas pelos veículos Ponte Jornalismo e Carta Capital, que expuseram o fato e incrementaram as matérias através da fala de especialistas, como podemos ver em uma das chamadas do Justificando da Carta Capital, “30 dias por Rafael Braga: para ninguém esquecer que não foi por Pinho Sol, foi racismo” e “mobilização pela liberdade de Rafael Braga ganha seis países além do Brasil” da Ponte Jornalismo, que destacou-se por reunir o maior volume de informações sobre o caso, uma vez que acompanhou todo o desfecho pelo viés dos direitos humanos. Através do material analisado, podemos ilustrar que se não fossem os blogs independentes e alguns colunistas de jornais de grande circulação, além de algumas poucas noticias informativas, nada mais seria encontrado, diferentemente de quando tratamos de jornais mais populares e objetivos, que deram suporte e voz a ativistas e especialistas, além da intensa mobilização e disseminação da hashtag #libertemrafaelbraga, que intensificou o debate a cerca da operacionalidade do sistema prisional. Assim, foi possível observar que o racismo, enquanto estrutura de uma sociedade marcada pelas relações raciais, determina lugares aos sujeitos através do estereótipo do marginal, associado ao homem negro, que faz com que a verdadeira história de Rafael Braga não passe nos noticiários e nos meios de comunicação de massa convencionais. Fora dos padrões de noticiabilidade e sem suporte midiático, casos como este têm se tornado a realidade de diversos jovens negros e pobres brasileiros.
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